terça-feira, 20 de junho de 2006

o bem e o mal...

"Tudo isto se passava em dias tão antigos como a memória das areias. Osíris sucedeu ao pai Geb e reinava com a irmã e esposa Ísis. Rei divino e filantropo, ensinava aos homens a agricultura e as práticas da religião. Invejoso deste reinado benfeitor, Seth, o irmão, com a cumplicidade de setenta e dois conspiradores, ofereceu a Osíris um festim e, à guisa de jogo, apresentou uma caixa à assistência. Desafiou os convivas a ver se conseguiam enfiar-se inteiramente lá dentro. Quando chegou a vez de Osíris, os conspiradores selaram logo a coberturam e lançaram a caixa ao Nilo. As correntes empurraram este caixão até às margens fenícias de Biblos. No decurso da viagem, tinha crescido uma árvore na caixa que continha os restos mortais de Osíris, acabando por fechá-lo, assim, no seu tronco. O rei de Biblos fez então talhar a árvore em forma de pilar e guardou-a no seu palácio. Ísis, que partira à procura do esposo, chegou, por sua vez, ao porto fenício e mandou devolver o pilar e a caixa que levou para os pântanos de Chemnis, perto da cidade de Buto. Em seguida, abriu a caixa e, embora Osíris estivesse morto, ela fez-se fecundar. Do acto, nasceu Hórus. Por seu turno, este foi agredido por Seth e chegou mesmo a travar-se um combate impiedoso entre ambos no deserto de Keraha. Mas o drama não parou por aqui. Aproveitando a ausência de Ísis, Seth apoderou-se da caixa e despedaçou Osíris em catorze pedaços que dispersou por todo o Egipto. Ísis, nada desencorajada, pôs-se à procura dos preciosos fragmentos, encontrou-os e sepultou-os no local, com excepção do falo que, entretanto, um peixe do Nilo - para sempre amaldiçoado por esse crime - devorara. É assim que hoje existem catorze santuários erigidos em memória do rei defunto. Na verdade, penso que o combate nunca se interrompeu. É o combate que travam sempre o bem e o mal. De facto, prosseguirá enquanto os homens forem o que são..."

Gilbert Sinoué, Akhenaton

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