segunda-feira, 3 de julho de 2006

O infinito e a imaginação

"Reconheço também ter uma certa dose de ingenuidade. Dois grandes defeitos para quem se consagra a uma carreira científica. Prometo-lhe que o meu livro sobre Akhenaton será tão rigoroso quanto possível. Simplesmente, o lado cartesiano que o professor encarna passa por cima de qualquer coisa essencial: a permissão dada aos homens para sonhar e imaginar. Sonho e imaginação são as fontes do possível. Acrescente-lhe uma pitada de loucura e obterá a poção mágica que permite a alguns seres atingirem o que a maioria considera ser inacessível.
Veja a vida de um antropólogo como Schliemann. Toda a sua infância foi embalada pelas narrativas encantadoras que corriam na região em que habitava. No Natal, o pai ofereceu-lhe um livro como presente. Numa das cenas do volume, podia-se contemplar os palácios de Tróia tomados de assalto e incendiados pelos gregos. O pequeno Schliemann perguntou, então, onde se encontrava aquela cidade fabulosa. O pai respondeu, com um sorriso nos lábios, que Tróia nunca existira, que se tratava de uma lenda inventada por Homero. «Não, protestou a criança. Um dia, encontrarei os restos da cidade de Príamo!» E foi o que ele fez.
Podia citar-lhe um grande número de exemplos deste género, em que o imaginário teve um papel determinante na história das grandes descobertas.
Por último, professor Lucas, o seu jogo apelou-me ao rigor, mas também me confortou acerca da minha visão do mundo: se o mundo real tem os seus limites, o mundo imaginário, então, é infinito...
Se tiver tempo, podemos jantar juntos amanhã. Explicar-lhe-ei então pessoalmente quanto amo o infinito."

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