quinta-feira, 25 de maio de 2006

transparente

Como a água da nascente
Minha mão é transparente
Aos olhos da minha avó.

Entre a terra e o divino
Minha avó negra sabia
Essas coisas do destino.

Desagua o mar que vejo
Nos rios desse desejo
De quem nasceu para cantar.

Um Zambéze feito Tejo
De tão cantado que invejo
Lisboa, por lá morar.

Vejo um cabelo entrançado
E o canto morno do fado
Num xaile de caracóis.

Como num conto de fadas
Os batuques são guitarras
E os coqueiros, girassóis.

Minha avó negra sabia
Ler as coisas do destino
Na palma de cada olhar.

Queira a vida ou que não queira
Disse Deus à feiticeira
Que nasci para cantar.

Transparente... como a água, como os meus olhos e mesmo como o vidro! E ando pensativa, preocupada, sem respostas a demasiadas perguntas, e não vejo o que faço. E depois, BUM! Dor, desorientação, regresso à Terra por uns instantes. Mas a seguir... a seguir, volto a andar pensativa, volto a andar preocupada, e as respostas continuam a não existir. Porém, olho minimamente para o que faço, para que o BUM! não se volte a repetir, e assim eu possa cumprir o meu fado.

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